Este site foi pensado como um meio de disponibilizar os dados da língua Kokama falada pela primeira geração de Kokamas nascidos no Brasil, filhos de pais que para cá migraram no início do século XX, oriundos das regiões de Loreto e de Nauta no Perú. A disponibilização desses dados coletados por mim em 1988, 1999, 1992 e 2010 é uma dívida antiga que assumi junto ao Kuráka (cacique) Antônio Guerra Samias e ao seu filho Francisco Guerra Samias, os quais foram os primeiros indígenas brasileiros a lutarem para que sua língua não fosse extinta no Brasil. Eles são precursores de todo o movimento de revitalização de línguas indígenas e minorizadas no Brasil.
Desde 1983, Seu Antônio Guerra Samias, Kuráka de Sapotal e seu filho Francisco Guerra Samias iniciaram um movimento para revitalização de sua língua nativa. Eles se entristeciam com o fato de ninguém mais estar usando a língua Kokama como meio de comunicação entre os Kokama de Sapotal, Sacambu, Jutimã, Benjamin Constant e Tabatinga. Além da preocupação com a perda da língua e da cultura Kokama, Seu Antônio e Seu Francisco já lutavam pela demarcação das terras habitadas pelo povo Kokama e planejava a reunião dos demais Kokama do Brasil. Seu Antônio tinha notícias de que existiam famílias Kokama em outras comunidades do alto e médio Solimões, até o baixo curso do rio Jutaí, e falava sempre do seu desejo de descer o rio na tentativa de se reunir com todos os seus parentes para fortalecer o movimento pro-Kokama do Brasil. Seu Antônio Samias, associado ao movimento Tikuna liderado pelo líder Tikuna, Seu Pedro Inácio, foi crescendo enquanto liderança Kokama para além de Sapotal.
Em 1986, recebi, por meio da professora Jussara Gruber, convite de Francisco Samias para ajudá-los na documentação da língua Kokama falada no Brasil, mas apenas em 1988 pude atender ao honroso convite que me havia sido feito. Com a ajuda do Professor Aryon Dall’Igna Rodrigues encaminhei projeto ao CNPQ solicitando ajuda financeira para realizar o estudo, e o prof. Aryon tratou logo de promover a minha associação ao Instituto de Letras da UnB, na qualidade de pesquisadora associada Junior desse Instituto. Iniciei, assim, a documentação e descrição da língua Kokama ainda falada por Seu Antônio Samias, suas irmãs e irmãos. Colaboraram com a documentação outros Koaáma de Sapotal, mas que só se lembravam de palavras e frases. Outros Kokama ainda fluentes na língua que muito ajudaram na pesquisa foram Seu Antônio Gonçalves Pinto e Seu Manuel Kauamarí, habitantes, respectivamente de Islândia (Peru) e Tabatinga.
Fiz ao todo quatro viagens a campo para documentação da língua (1988, 1989, 1992 2010). Em 1992, realizamos, Francisco, Valdomiro e eu, um censo com o objetivo de identificar quem ainda se lembrava da língua Kokama, mas esse censo terminou servindo de primeiro censo populacional de Sapotal. Reunimos, entre 1988 e 1992, o que pudemos coletar de dados linguísticos junto alguns dos últimos falantes e lembradores da língua Kokama falada no Alto Solimões Brasil.
Em 1989 surgiu a oportunidade de realização de um doutorado em Linguística na Universidade de Pittsburgh, PA. Viajei em agosto desse mesmo ano em busca de conhecimentos para voltar ao Brasil e me dedicar aos estudos linguísticos e documentação de línguas indígenas brasileiras.
Como já havia permanecido seis meses com os Kokama, coletado e analisado bastante dados, com a anuência deles, resolvi que minha tese de doutorado trataria da origem não genética dessa língua. E assim foi. Em minha tese de doutorado defendi uma hipótese levantada por Aryon Dall’Igna Rodrigues em 1986, segundo a qual a língua Kokama seria resultado de um possível contato de um povo Tupí-Guaraní com um povo Aruák. Na época ninguém, além de mim, se preocupava com a documentação da língua Kokama e tão pouco com sua história. Norma Faust, linguista do SIL, já não mais trabalhava com a língua Kokama falada no Peru. Minha tese defendida em 1995, orientada por Susan Berck-Seligson e Terrence Kaufman foi o primeiro estudo a tratar da língua Kokama como resultado de contato linguístico no oeste amazônico, fundamentada no modelo teórico-metodológico de Thomason e Kaufman (1988). Duas décadas depois, teve início uma série de prós e contras relativos à minha tese, mas os linguistas que foram inicialmente contra, terminaram por assumir que o proto-Kokama-Omágua resultou de contato linguístico. Embora minha tese, escrita em Inglês não tenha sido de utilidade imediata para os Kokama, a minha pesquisa serviu para provar (Cabral, julho de 1996) que os Kokama de Sapotal são índios Kokama, o que contribuiu para a demarcação da Terra Indígena de Sapotal, Sacambu e Jutimã.
Infelizmente seu Antônio Samias havia falecido por displicência do hospital de Tabatinga onde havia sido internado para uma cirurgia. Faleceu vítima de uma infecção decorrente do esquecimento de um tubo de plástico em seu organismo pela equipe médica, que não tinha ideia da importância daquele grande ser humano Kokama. Em seguida, Seu Francisco começou a definhar com uma doença no fígado, vindo a falecer em menos de uma década depois do falecimento do seu pai.
Eu já estava desaminada quanto a contribuir com o ensino da língua Kokama, quando em 2005 fui convidada por Jussara Gruber para lecionar a disciplina Língua Kokama no Curso de licenciatura para Professores Tikuna do Alto Solimões, uma iniciativa da Organização dos Professores Tikuna do Brasil (OGPTB), realizado na Aldeia Nova Filadelfia. A turma Kokama nesse curso era constituída de 20 alunos, 18 deles Kokama, e dois Kaixana. Alguns dos Kokama eram oriundos do Município de Benjamin Constant, outros de São Paulo de Olivença e outros de Santo Antônio do Iça. Foi minha segunda contribuição efetiva aos Kokama.
Durante o curso, ficou acertado que usaríamos a grafia estabelecida em 1999 por Seu Antônio Samias, Seu Francisco Samias e por mim. Essa escrita se diferenciava da escrita usada no Peru na época, proposta por Norma Faust, visto que, em muitos aspectos, se referenciava na escrita do espanhol. No que segue, apresento um quadro contrastivo das duas grafias. A coluna da esquerda traz os fonemas do Kokama, a segunda coluna traz a grafia proposta por Faust e a última coluna a grafia proposta por mim, Antônio Samias e Francisco Samias.
Assim, optamos por representar por ts o fonema /ts/, por tx o fonema /tʃ/ e não por ch, já que em português ch é usado para representar o fonema /ʃ/. Usamos y ao invés do sinal de mais (+) para representar a vogal central alta /ɨ/, visto que é por essa letra que a vogal central alta de muitas línguas indígenas brasileiras é representada. Usamos j para representar o fonema aproximante álveo-palatal /j/ ao invés de y, a letra k para representar o fonema /k/ e não c e qu, a letra h para representar o fonema fricativo glotal sonoro /ɦ/ e não j, e w para representar o fonema aproximante labial /w/ ao invés de uh. As letras b, d, f, l e o são usadas em empréstimos do espanhol, da Média Lengua e do Português.
Em nossos dados, uma única palavra ocorre com vogal nasal é a palavra para ‘bodó’ [ˈẽĩ̯a], de forma que resolveu-se considerar uma vogal anterior média nasal ẽ na escrita exclusivamente dessa expressão.
Em 2008, como passei a assumir muitas responsabilidades na UnB, enviei minha então aluna de mestrado Chandra Viegas Barros para me substituir no curso da OGPTB, quando eu não pudesse participar das etapas, orientando-a e construindo com ela os conteúdos a serem trabalhados nessas etapas. No último ano do curso, em 2010, gravei o CD de música Kokama com o grupo de Seu André, durante evento comemorativo do término do Curso da OGTPB, o qual, nessa época, já funcionava em parceria com a Universidade Estadual do Amazonas. Seu Francisco Samias ainda estava vivo, embora muito debilitado. Foi inclusive ele quem trouxe seu André e seu grupo para que eu gravasse o CD. Foi nessa etapa do curso que encontrei dona Angelina pela última vez.
Durante o curso, procurei ajudar os alunos Kokama, todos professores, a estudar a sua língua e a pesquisar sobre ela junto aos velhinhos que ainda podiam se comunicar na língua Kokama. Foram os professores José Maria e Leonel que conseguiram localizar falantes da língua Kokama do Brasil e, com eles e outros alunos do curso organizamos três DVD’s, sob a direção de Chandra Viegas. Os DVD’s foram produzidos com verba da CAPES destinada ao meu projeto “Observatório da Educação Escolar Indígena”, disponibilizados neste site. Eles contêm atividades práticas para estimular a aprendizagem da língua, e incluem entrevistas feitas por José Maria e Leonel junto a quatro dos últimos Kokama falantes da língua no Brasil.
Depois do falecimento de Francisco, ainda trouxe a Brasília dois Kokama, por ocasião do evento sobre línguas ameaçadas que organizei em Brasília, em 2010, para o qual foram convidados vários indígenas e linguistas engajados com programas de fortalecimento de línguas indígenas, dentre os quais, a professora norte americana Leanne Hinton. Nessa ocasião ela nos concedeu autorização para traduzirmos para o Português o livro “How to Keep Your language Alive’, o qual traduzimos com o título “Como manter sua língua viva: uma abordagem da aprendizagem individualizada baseada no bom senso”), assim como a devida autorização dos co-autores.
Ficou acertado com Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) que o livro seria publicado por lá. Infelizmente, a antropóloga que passou a cuidar do processo relativo à publicação do livro, perdeu (muito provavelmente por influência de sua orientadora) a pasta contendo não só a cessão de direitos ao LALLI para publicação da tradução do livro, como a própria tradução. Fato imperdoável! Mas em 2016 resolvemos dedicar um número especial da Revista Brasileira de Linguística Antropológica à publicação da tradução desse importante livro (https://periodicos.unb.br/index.php/ling/issue/view/2236).
Depois de 2011 perdi o contato com os Kokama de Sapotal. Já nessa época o movimento Kokama no Brasil se expandia e vários núcleos liderados por professores e / ou ativistas Kokama davam início a projetos de retomada da língua.
Em 2019, uma indígena Kokama me procurou pelo Whatsapp para que eu a aceitasse no LALLI, pois desejava fazer um mestrado em linguística na UnB. Ela vinha de São Paulo de Olivença, a pedido dos caciques Kokama da região para estudar a língua de seus avós e aplicar o seu conhecimento em prol do ensino da língua Kokama nas escolas Kokáma de São Paulo de Olivença. A princípio hesitei, pois havia prometido a mim mesma de só orientar indígenas falantes de suas línguas nativas. Mas essa Kokama, Fabiana Simão Dias, continuava insistindo em estudar comigo, pois queria ter acesso aos materiais que eu havia reunido ao longo dos anos sobre a história dos Kokama no Brasil e sobre sua língua e cultura. Insistiu tanto que terminei por acreditar no seu empenho e por aceitar orientá-la. Afinal eu tinha uma dívida junto aos Guerra Samias. Foi realmente muito bom para mim ter Fabiana como pesquisadora do LALLI e como minha orientanda. Resolvemos que sua dissertação de mestrado seria diferenciada e trataria da organização do banco de dados da língua Kokama, o qual seria disponibilizado aos Kokama do Brasil.
A ideia tanto agradou a ela quanto a mim. Foram dois anos de preparação desse material, com elaboração de fichas descritivas, recorte de dados, transcrições, digitalização de documentos físicos, digitalização de dados sonoros, enfim, tratamento e organização de todo o material contido em meu acervo Kokama para sua inserção em um site aberto, à disposição dos Kokama.
Trata-se de um trabalho pioneiro realizado por uma mestranda Kokama com sério compromisso com o seu povo. Ela realmente cumpriu o que prometeu fazer quando me procurou em 2019. Agradeço a ela por poder contribuir com a documentação linguística do Kokama outrora falado no Brasil, de forma que essa documentação possa servir aos projetos de revitalização ou de retomada dessa língua no nosso país.
Saliento que o Kokama foi a primeira língua com a qual trabalhei individualmente, quando ainda estava eu por ganhar experiência no trabalho de campo e nos estudos descritivos de línguas indígenas brasileiras. E ao expor minhas gravações a um largo píublico, tenho ciência de que estou sujeita também a críticas dos que não contextualizam o que veem e ouvem. Mas eu queria transparência. As gravações em seus contextos reais refletem a naturalidade como o trabalho se desenvolveu, sem restrições, como Seu Antonio e Seu Francisco queriam. E assim liberei quase todo o meu acervo para o banco de dados organizado por Fabiana Simão Dias, que cumpriu sua palavra e provou que veio ao LALLI para resgatar esse material e ajudar-me a devolvê-lo para o seu povo. Disse “quase todo meu acervo” pois não divulgamos uma única fita que continha conversa entre mulheres discutindo questões muito pessoais de sua comunidade, assim como um caderno d ecampo que será publicado e, só depois será incluído no site.
Sinto-me feliz por cumprir minha promessa feita a Seu Francisco Guerra Samias e a Seu Antônio Guerra Samias, a de fazer com que suas palavras e o conhecimento que nos legaram nas gravações feitas por mim chegassem aos demias Kokama do Brasil. Grata, Fabiana!
— Ana Suelly Arruda Câmara Cabral
This website was conceived as a means of making available data from the Kokama language spoken by the first generation of Kokamas born in Brazil, whose parents originally from the regions of Loreto and Nauta in Peru migrated here in the early 20th century. The availability of this data collected by me in 1988, 1999, 1992 and 2010 is a response to an old promess that I made to the the Kuráka (chief) Antônio Guerra Samias and to his son Francisco Guerra Samias, who were the first Brazilian indigenous people to fight to prevent their language from becoming extinct in Brazil. They are precursors of the revitalization of indigenous languages in Brazil.
Since 1983, Mr. Antônio Guerra Samias, Kuráka of Sapotal, and his son Francisco Guerra Samias have initiated a movement to revitalize their native language. They were saddened by the fact that no one was using the Kokama language as a means of communication in Sapotal, Sacambu, Jutimã, Benjamin Constant and Tabatinga. In addition to their concerns about the loss of the Kokama language and culture, Antônio and Francisco were already fighting for the demarcation of the lands inhabited by the Kokama people and were planning to reunite the other Kokama communities in Brazil. Antônio had news that there were Kokama families in other communities in the upper and middle Solimões river, as far as the lower course of the Jutaí River, and he always expressed his desire to go down the river in an attempt to reunite with all of them and strengthen the pro-Kokama movement in Brazil. Antônio Samias, associated with the Tikuna movement led by the Tikuna leader Pedro Inácio, was growing as a Kokama leader beyond Sapotal, Sacambu and Jutimã.
In 1986, I received an invitation from Jussara Gruber to help Seu Antônio and Francisco document the Kokama language spoken in Brazil, but it was only in 1988 that I was able to accept their invitation. With the help of Professor Aryon Dall’Igna Rodrigues, I submitted a project to the CNPQ requesting financial aid to carry out the study, and Professor Aryon immediately arranged for me to join the Institute of Letters of UnB, as a Junior Associate Researcher of that Institute. Thus, I began the documentation and description of the Kokama language still spoken by Antônio Samias, his sisters and brothers. Other Kokamas from Sapotal collaborated with the project, but they only remembered words and phrases. Other Kokama still fluent in the language who greatly helped in the research were Antônio Gonçalves Pinto and Manuel Kauamarí, residents, respectively, of Iceland (Peru) and Tabatinga (Brasil).
I made four field trips to document the language (1988, 1989 and 1992). In 1992, Francisco, Valdomiro and I conducted a census to identify those who still remembered the Kokama language, but this census ended up serving as the first population census of Sapotal. Between 1988 and 1992, we gathered linguistic data from the majority of the last Kokama speakers in Brazil.
In 1989, the opportunity arose to pursue a doctorate in Linguistics at the University of Pittsburgh, PA. I traveled in August of that same year in search of knowledge to return to Brazil and dedicate myself to linguistic studies and documentation of Brazilian indigenous languages.
Having already spent six months with the Kokama, collecting and analyzing a great amount of data, with their consent, I decided that my doctoral thesis would deal with the non-genetic origin of this language. And so it was. In my doctoral thesis, I defended a hypothesis put forward by Aryon Dall’Igna Rodrigues in 1986, according to which the Kokama language was the result of possible contact between a Tupí-Guaraní people and an Arawak people. At the time, no one, apart from me, was concerned with documenting the Kokama language, much less with its history. Norma Faust, a linguist at SIL, was no longer working with the Kokama language spoken in Peru. My thesis, defended in 1995, supervised by Susan Berck-Seligson and Terrence Kaufman, was the first study to address the Kokama language as a result of linguistic contact in the western Amazon, based on the theoretical-methodological model of Thomason and Kaufman (1988). Two decades later, a series of negative criticisms regarding my thesis began, but the linguists who were initially against it ended up assuming that the proto-Kokama-Omágua resulted from linguistic contact. Although my thesis, written in English, was not of immediate use to the Kokama, my research served to prove (Cabral, July 1996) that the Kokama of Sapotal are true Indigenous people, which contributed to the demarcation of the Sapotal, Sacambu and Jutimã Indigenous Land.
Unfortunately, Mr. Antônio Samias had died due to negligence at the Tabatinga hospital where he had been admitted for surgery. He died of an infection caused by the medical team forgetting to insert a plastic tube into his body, who had no idea of the importance of that great Kokama human being. Soon after, Mr. Francisco began to decline due to a liver disease, eighteen years after his father's death.
I was already discouraged about contributing to the teaching of the Kokama language when, in 2005, I was invited by Jussara Gruber to teach the Kokama language in the undergraduate course for Tikuna teachers of Alto Solimões, an initiative of the Organization of Tikuna Teachers of Brazil (OGPTB), held in Aldeia Nova Filadelfia. The Kokama class in that course consisted of 20 students, 18 of whom were Kokama and two were Kaixana. Some of the Kokama came from the municipality of Benjamin Constant, others from São Paulo de Olivença and others from Santo Antônio do Iça. This was my second effective contribution to the Kokama.
During the course, it was agreed that we would use the spelling established in 1999 by Seu Antônio Samias, Seu Francisco Samias and myself. This writing differed from the writing used in Peru at the time, proposed by Norma Faust, since in many aspects it was based on Spanish writing. In what follows , I present a contrasting table of the two spellings. The left column shows the phonemes of Kokama, the middle column the spelling proposed by Faust and the last column the spelling proposed by myself, Antônio Samias and Francisco Samias.
Thus, we chose to represent the phoneme /ts/ by ts, the phoneme /tʃ/ by tx and not by ch, since in Portuguese ch is used to represent the phoneme /ʃ/. We used y instead of the plus sign (+) to represent the high central vowel /ɨ/, since this is the letter that represents the high central vowel of many indigenous Brazilian languages. We used j to represent the alveopalatal approximant phoneme /j/ instead of y, the letter k to represent the phoneme /k/ and not c and qu, the letter h to represent the voiced glottal fricative phoneme /ɦ/ and not j, and w to represent the labial approximant phoneme /w/ instead of uh. The letters b, d, f, l and o are used in loanwords from Spanish, Média Lengua and Portuguese. In our data, only one word occurs with a nasal vowel, which is the word for ‘bodó’ [ˈẽĩ̯a], so it was decided to consider a nasal mid front vowel ẽ in the writing of this expression exclusively.
In our data, only one word occurs with a nasal vowel: the word for ‘bodó’ [ˈẽĩ̯a], so it was decided to consider a nasal mid front vowel ẽ in the writing of this expression exclusively.
In 2008, as I began to take on many responsibilities at UnB, I sent my then master’s student Chandra Viegas Barros to replace me when in the OGPTB course, when I could not participate of it, guiding her and building with her the content to be worked on in the stages. In the last year of the course, in 2010, I recorded the CD of Kokama’s music with Seu André’s group, during an event celebrating the end of the OGPTB Course, which, at that time, was already operating in partnership with the State University of Amazonas. Seu Francisco Samias was still alive, although very weak. It was he who brought Seu André and his group so that I could record the CD. It was during this stage of the course that I met Dona Angelina Samias for the last time.
During the course, I tried to help the Kokama students (all of whom were teachers), to study their language and to research it with the elderly who could still communicate in the Kokama language. It was the teachers José Maria and Leonel who managed to locate speakers of the Kokama language in Brazil, and with them and other students from the course. as weel as with Chandra Viegas, we organized three CDs, with the grant from CAPES destinated to my project (Laboratório da Educação Indígena). The CDs, available on this website, contain practical activities to encourage language learning, which included interviews conducted by José Maria and Leonel with the last Kokama speakers of the language in Brazil.
After Francisco's death, I brought two Kokama to Brasília for the event on endangered languages that I organized in Brasília in 2010, to which several indigenous people and linguists involved in programs to strengthen indigenous languages were invited, including the North American linguist Leanne Hinton. On that occasion, she granted us permission to translate the book “How to Keep Your Language Alive” into Portuguese, which we translated with the title “Como manter sua língua viva: uma abordagem da aprendizagem individualizada base no bem senso” (“How to Keep Your Language Alive: An Individualized Learning Approach Based on Common Sense”) with the due authorization of the co-authors.
It was agreed with the Secretariat of Continuing Education, Literacy, Diversity and Inclusion (SECADI) that the book would be published there. Unfortunately, the anthropologist who took charge of the process related to the publication of the book lost (most likely due to the influence of her advisor) the folder containing not only the transfer of rights to LALLI for the publication of the translation of the book, but also the translation itself. An unforgivable fact! However, in 2016 we decided to dedicate a special issue of the Brazilian Journal of Anthropological Linguistics to the publication of the translation of this important book (https://periodicos.unb.br/index.php/ling/issue/view/2236).
After 2011 I lost contact with the Kokama of Sapotal. At that time, the Kokama movement in Brazil was already expanding and several groups led by Kokama teachers and/or activists were starting projects to revive the language.
In 2019, a Kokama woman contacted me via WhatsApp asking me to accept her at LALLI, as she wanted to pursue a master’s degree in linguistics at UnB. She had come from São Paulo de Olivença, at the request of the Kokama chiefs of the region, to study the language of her grandparents to teach the Kokama language in the Kokama schools of São Paulo de Olivença. At first, I hesitated, as I had promised myself that I would only mentor indigenous people who spoke their native languages. But this Kokama woman, Fabiana Simão Dias, kept insisting on studying with me, as she wanted access to the materials I had gathered over the years about the history of the Kokama in Brazil and about their language and culture. She insisted so much that I ended up believing in her commitment and accepting to mentor her. After all, I owed a debt to the Guerra Samias. It was really great for me to have Fabiana as a researcher at LALLI and as my mentee. We decided that your master's dissertation would be different and would deal with the organization of the Kokama language database, which would be made available to the Kokama people of Brazil.
The idea pleased both her and me. It took two years to prepare this material, with the creation of descriptive files, data clippings, transcriptions, digitalization of physical documents, digitalization of sound data, and finally, the processing and organization of all the material contained in my Kokama collection for its inclusion on an open website, available to the Kokama.
This is a pioneering work carried out by a Kokama master's student with a serious commitment to her people. She truly fulfilled what she promised to do when she contacted me in 2019. I thank her for being able to contribute to the linguistic documentation of the Kokama language once spoken in Brazil, so that this documentation can serve projects to revitalize or revive this language in our country.
I would like to point out that Kokama was the first language I worked with individually when I was still gaining experience in fieldwork and descriptive studies of Brazilian indigenous languages. And by exposing my recordings to a wide audience, I would also be subject to criticism from those who do not contextualize what they hear and see. But I wanted transparency. The recordings in their real contexts reflect the natural way in which the work developed, without restrictions, as Seu Antonio and Seu Francisco wanted. And so I released almost all of my collection to the database organized by Fabiana Simão Dias, who kept her word and proved that she came to LALLI to rescue this material and help me return it to her people. I said “almost all of my collection” because we did not release a single tape that contained a conversation between women discussing very personal issues of their community, as well as a field note file that will be published, and only after that will be inserted into the website. I am happy to fulfill my promise to Mr. Francisco Guerra Samias and Mr. Antônio Guerra Samias, to ensure that their words and the knowledge they left us in the recordings I made reach the other Kokama people in Brazil. Thank you, Fabiana!
— Ana Suelly Arruda Câmara Cabral